sÃO pAULO*
'São Paulo.
O céu submerso em prédios.
O céu poligonal.
Os restos.
A pobreza se dissipa em São Paulo. Tão burguesa!
E tenho a sensação de que estou mergulhado numa cidade infinita.
São Paulo e seus segredos,
…Seu vestido de néon
…Seu tailleur parisiense
…Seu modelito de Faoze Haten
…Seu vestido de chita
…Seu pé descalço;
…Inflamado;
…Apodrecido;
Avenida Paulista.
Limiar da decadência.
De um lado:
Minhas putas,
botecos nordestinos,
carcamanos,
arcaicas cantinas,
teatros em reforma,
sempre em reforma,
sarjetas,
Dom Orione,
Brigadeiro rumo ao centro,
Praça Roosevelt.
Meus mendigos.
Por ali, ao lado da escadaria que cheira a mijo,
pertinho do Ruth Escobar, me disseram, o pessoal ia beber no Garufas.
O Geraldinho da Jerupinga, da conta negativa, da cocaína.
O Amigo Gianotti.
Focaccia e cerveja.
O desejo de pobreza do que restou da esquerda;
O desejo de riqueza de quem vive nos cortiços.
O Bixiga é um cortiço.
São Paulo é uma gambiarra.
Do outro lado: os jardins.
Apartamentos de mil metros quadrados com maçanetas douradas, banhadas a ouro.
Quadros de Portinari, ó coitado!
Pisos e escadarias em mármore,
de granito ou madreperolados!
Restaurantes requintados;
Refinados;
Concorridos;
Muito caros.
Figueira Rubayat,
Ritz,
Supremo,
Bar Balcão,
Roane,
Casa do padeiro.
Na Consolação, os meninos e as meninas
ouvem música pop inglesa produzida por computadores.
E dançam em ecstasy.
Artistas e boêmios
De um e doutro lado
São Paulo. Meu São Paulo.
Onde está você, Mário?
Me diga o que sobrou, Piva?
O que não é poesia,
É concreto armado.
É o homem armado,
Sem versos, nem rima.
Paulicéia desvairada, paranóica, avariada,
corrompida, conservadora e empedernida.
Divertida, flamejante, pluriétnica,
sodomita, cosmopolita, cibernética.
Só sobraram os malditos?
E nós? E as fogueiras, Mário?
Ainda estamos aqui.
São Paulo, meu São Paulo.
São sempre brancos e ricos
os ocultistas defensores de seu gigantismo mórbido.
Os que lhe corroem as entranhas,
Os que lhe sugam a esperança.
São Paulo, meu São Paulo,
Que saudade! Que cansaço dos cansados!
Em São Paulo
Sinto-me perdido a três quarteirões da minha casa.
Sinto-me em casa.'
O céu submerso em prédios.
O céu poligonal.
Os restos.
A pobreza se dissipa em São Paulo. Tão burguesa!
E tenho a sensação de que estou mergulhado numa cidade infinita.
São Paulo e seus segredos,
…Seu vestido de néon
…Seu tailleur parisiense
…Seu modelito de Faoze Haten
…Seu vestido de chita
…Seu pé descalço;
…Inflamado;
…Apodrecido;
Avenida Paulista.
Limiar da decadência.
De um lado:
Minhas putas,
botecos nordestinos,
carcamanos,
arcaicas cantinas,
teatros em reforma,
sempre em reforma,
sarjetas,
Dom Orione,
Brigadeiro rumo ao centro,
Praça Roosevelt.
Meus mendigos.
Por ali, ao lado da escadaria que cheira a mijo,
pertinho do Ruth Escobar, me disseram, o pessoal ia beber no Garufas.
O Geraldinho da Jerupinga, da conta negativa, da cocaína.
O Amigo Gianotti.
Focaccia e cerveja.
O desejo de pobreza do que restou da esquerda;
O desejo de riqueza de quem vive nos cortiços.
O Bixiga é um cortiço.
São Paulo é uma gambiarra.
Do outro lado: os jardins.
Apartamentos de mil metros quadrados com maçanetas douradas, banhadas a ouro.
Quadros de Portinari, ó coitado!
Pisos e escadarias em mármore,
de granito ou madreperolados!
Restaurantes requintados;
Refinados;
Concorridos;
Muito caros.
Figueira Rubayat,
Ritz,
Supremo,
Bar Balcão,
Roane,
Casa do padeiro.
Na Consolação, os meninos e as meninas
ouvem música pop inglesa produzida por computadores.
E dançam em ecstasy.
Artistas e boêmios
De um e doutro lado
São Paulo. Meu São Paulo.
Onde está você, Mário?
Me diga o que sobrou, Piva?
O que não é poesia,
É concreto armado.
É o homem armado,
Sem versos, nem rima.
Paulicéia desvairada, paranóica, avariada,
corrompida, conservadora e empedernida.
Divertida, flamejante, pluriétnica,
sodomita, cosmopolita, cibernética.
Só sobraram os malditos?
E nós? E as fogueiras, Mário?
Ainda estamos aqui.
São Paulo, meu São Paulo.
São sempre brancos e ricos
os ocultistas defensores de seu gigantismo mórbido.
Os que lhe corroem as entranhas,
Os que lhe sugam a esperança.
São Paulo, meu São Paulo,
Que saudade! Que cansaço dos cansados!
Em São Paulo
Sinto-me perdido a três quarteirões da minha casa.
Sinto-me em casa.'
*Poema permanentemente reescrito
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